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Mostrando postagens de janeiro, 2022

Papel de bala

Alguém jogou no chão do metrô três papéis de bala. Acontece que a corrente de vento impediu que esses restos e fragmentos de infância se perdessem pelas ruas. Havia uma conjunção singular de fatores: a ventania encanada que se forma nas estações, maré de ar, nas idas e vindas dos vagões, e respiradouros gigantescos que compunham um equilíbrio frágil, mas ainda equilíbrio - que reteve aqueles papéis plásticos coloridos no piso da entrada, no limite mesmo da estação, à beira da escada rolante. Era uma dança: a viração artificial corria forte da esquina da Rua dos Pinheiros com a Fradique Coutinho. Motocicletas furibundas de entregadores de aplicativos, automóveis blindados de existência, profetas embriagados que vaticinavam o fim dos tempos, o fim da memória, Já não existe mais nada aqui para vocês, entre poeiras de concretos e farelos de cimento granulando o asfalto, todos apequenados do Grande Edifício Rijo, excitado e dominante, que violou o chão, e se erige rumo aos céus, Este Deus P